Enredo impopular


Depois de tantos anos, finalmente,
Findou-se nossa Terra desistente;
Falavam os profetas de final,
Mas ninguém os ouviu - já é muito tarde,
Agora em quente sangue o mundo arde,
Mas só vou-lhes contar tudo, afinal;

Pois no primeiro dia os sete mares
Subiram até nossos calcanhares,
As cristalinas águas, transparentes,
Coverteram-se em ácido carmim,
O reinado oceânico e seu fim
Na alvorada de monstros fluorescentes,

Já no segundo dia, todos viram
Que nem os azuis céus lhes acudiram:
Os longos, estressantes temporais
Desabaram sob nossas fracas casas,
A mais mortal de todas as borrrascas,
E 'inda não terminou, digo-te mais:

No caso do terceiro dia, eles,
Que pensávamos como mitos reles,
Deixaram as cidades sob a terra
O Sol não mais tirava-lhes a vida,
E nem mesmo qualquer estaca tinha
Como matar vampiros nesta guerra,

E sobre o quarto dia, aconteceu
Coisa que não é problema seu, nem meu
A plenitude e calma cadavérica,
Como se o mundo fosse cemitério,
Terminou; e portanto, num mistério,
Podres carnes ergueram-se, tão fétidas...

Dentre todos, prefiro o dia quinto,
Onde um voraz demônio faminto
Convocou os indivíduos com fúria
Para auxiliar no espalhamento
De toda violência e sofrimento,
A finalização de meta espúria;

No sexto dia, não m'esquecerei
Daquilo que disseram-me vocês
Sobre a Morte, veloz e violenta
Que virá para coitados como nós
No consumar satânico do Algoz
Que atirar-me da ponte ainda tenta,

Foi no sétimo dia a epifania,
A confusão domina e traz azia,
De tentar entender e não lograr
Mas sinto que este livro não tem nada,
Atirei-o dos pincaros da escada,
Armagedom? Não, enredo impopular.