Desaba a noite em chuva. No silêncio,
Um muito mais sentido do qu'ouvido,
Ela corre, feitio destemido,
E vence a guerra como eu também venço!
Nem mesmo o níveo azul dos relampejos,
Dragões devoradores que enregelam,
Nem mesmo as gotas várias que flagelam
Conseguem aplacar os seus ensejos;
Máquina fumegante! Tua morte
Não se dará por nada que foi visto,
Com crença inabalável digo isto,
Crias a própria vida e a própria sorte!
Agora, finalmente estás liberta!
E segues, nesta nuvem de vapor,
(Então é um opaco cinza a tua cor?)
Ciente de seguir a rota certa!
Que viagem dantesca! Tens coragem,
Pois os trilhos s'assentam nas motanhas,
Repletos de mecânicas aranhas,
Numa elusiva, doida e torpe imagem!
Vamos! Locomotiva ensandecida,
Desgovernada? Não, apenas veloz,
Mas não seguirás mais assim, a sós,
Terás alguém ao teu lado na vida,
Quem? Ora, tal pergunta tem resposta,
Não é literal, mas vou descrever:
É como uma manhã sempre a nascer,
O supremo sujeito de quem gostas!
Pois lá estava ele naquele momento:
No começo, princípio inalterável,
Acalmava-te os ânimos, mui hábil,
Das viagens curava os ferimentos;
Portanto, devem ambos s'entregar
À corrida que cessará jamais,
Como fazes, agora ele (idem) faz,
Para chegar, então, em algum lugar!
Mostra-se, de repente, uma outra cena:
Vagões sendo arrastados por dois trens,
E mais outro detalhe me convém:
Em breve virará romance o tema!
Pois quem disse que não se pode ver
Cousa tão bela e quista acontecendo,
Digo: senta-te e fica, fica vendo,
A potência imanente só crescer!
No caldeirão do Amor, ocorrerá
A fusão dos vagões, metais, vapores,
Formar-se-á uma estrela, mil fulgores,
A completa união do que nos há!