BANIMENTO
I

Pois nós muito cantamos, eu cantei, sicômoro,
E há muito mais para cantar-se que conhecemos,
(Céus em suas secretas vastidões — ai de mim! mil mistérios azulados,
Deuses que lembramos ou não, entretanto plenos são em poder)
E quero eu não mais cantar à Torre — a ti que deixarei livre como eras,
Não precisas acorrentar a mim tuas asas.
Que sejas liberto, que finques tuas raízes
Profundamente no solo - é isto que desejo que contigo aconteças,
Ou, se quiseres voar, navegar, descobrir o Mundo, podes também.

Comigo? cantarei odes aos deuses,
Meus deuses e deuses de mais ninguém,
Deuses que carregam consigo melhor lira que a que tenho,
(Mais habilidosos, muito habilidosos são)
E deuses em brumas rodopiantes e em carruagens puxadas por pássaros,
E deuses com seus tridentes,
Reis, poetas, místicos doutros tempos aos quais somos gratos,
E mais: tenho de cantar à Alafren, pois é-me querido,
E vivi com Alafren, Alafren conheci antes que não naquela conversa,
E a história que contou-me não vivi, mas vivi outras muitas co'ele;
Há mais para dizer-se que quero dizer:
Digamos delinquências pelas delícias das linhas,
E piso neste solo, sinto o cheiro, e sentirás,
Com a doçura das canções,
Melíflua doçura que baixou, apagou-se — mas ainda
Se parares para perceber, resiste —
E se plumas tiver eu de usar,
Negras plumas, veludosas plumas em coração, em peito,
Se plumas eu tiver de manejar com minhas mãos por fios dourados,
Se plumas eu tiver de deslizar pelo papel —
Que seja — permanece-me a Música.

Então paremos com Torres e questionamentos demasiados
Navegando às margens mais marulhantes que as melodias d'outrora;
Neste lago, aprofundemo-nos nos interiores,
Loucos para encontrar o reduto onde os deuses habitam deliciados
Com mortais como nós — somente os dignos mortais.
E vagarei com os andarilhos, mais serão minhas canções,
Canções de folhas, de ventos-do-leste, coisas mortais e não-mortais,
Canções de urros, de liberdade por essas correntes da terra,
Canções — cantaremos e caíremos no coração
Do Mundo — mundo no qual não há espaço para ti.
Então dissipa-te, Torre!

Já resolvi teu problema, já morta estás, deves parar,
Que o que acontece agora são outras linhas, nossas linhas.
No palpitante coração do mundo a luz faz surgirem outros dias,
E esses dias não deves ter em conta como teus — estás morta;
O que foi feito foi e deixa viver livre, nada vário o sicômoro,
Torre onde abstractos anjos — como abstractos bardos —
Cantarão celestiais canções; e cantarão.