Misteriosa crisálida,
Forma fugidia, tão pálida,
Em teu Destino tu gestas
Fins e metades funestas;
Reconheci tua imagem,
Afortunada vantagem,
Em sonho instável, perverso,
Traduzo sangue ao verso;
Digo a verdade somente,
Quem tem argila, presente
Pelo artesão concedido,
A criação é um vício;
Qual a impossível Musa
Da qual o artista se muna
Pode romper a prisão,
Cristal, luar e facão?
Vaga crisálida, vento
Potência, fogo, lamento,
Do final de uma canção,
Vens a mim, vez sim, vez não;
Se levantando nos ares, De peitos mortos cantares, Peçonha vinda de insetos Avermelhados, infectos,
Está encerrada nos galhos Só maquinando encontrar-nos, Promessa tola, vazia, Ela dormita, não tinha
Noção nenhuma de nada, Mas a palavra foi dada: E ouviu-se: vem, ó crisálida, Faces distantes, impávidas,Das verdes margens dos rios Os sussurantes e frios Lembretes 'scritos, prenúncios, De nascimentos, anúncios,
Emerge, dentre as demais Nos casarões naturais Esta primeira piada, Eternizada crisálida!
Quisera ter-te p'ra mim, Pois sei que não tens um fim, Olhando assim tais brancuras, Abstrações convolutas,
Contudo, quando percebes Aquelas vindas d'outrora, A rima muda, e antecedes A plenitude da aurora,
Pois no jardim perenal,
Palco central desta história,
Tudo de tipo normal
E estes poemas agora;
Mas porque tu pavimentas Os cibernéticos passos, Tu és por quem sou só mecenas Sustentando artes e astros...