Quando percebo quem eu sou
E quem já fui (infelizmente!),
Sei que por esta estrada vou
Sem qualquer crença, descontente,
Antigamente, acreditei
Que redenções eram possíveis;
Zombou-me o Mundo e o deplorei,
Morreram sonhos, desprezíveis,
O que me falta descobrir,
Qual decepção se encontra oculta?
E este fantasma a consumir
A vida toda, insepulta,
Uma implacável energia
Consegue usar e dispender,
Para apagar a epifania
A resplender neste não-ser,
Pois se em nada há uma razão,
Pulsão altíssima, essencial,
Não há motivo para ação,
O urro bacante, gutural,
E lentamente percebendo
Jogos complexos qu'eles fazem,
Aqui se deita o firmamento,
Sob nossos pés, segredos jazem.
E não consigo desmentir -
Sabes que sou apenas flautista -
Com melodias vou partir
Os deuses todos; eu, niilista!