Observem! Observem com os olhos arregalados, plenos, com os olhos que cristais trespassam, observem os gestos daquele de guizos, daquele de implacável silhueta que aduz a Fúria apontando-lhe os traços — é menestrel de paixões consumidoras, de paixões tão azulejantes quanto orlas marítimas, de paixões que arroxeiam a pele! Quem é ele e qual é seu nome — e isto importa? Nada há de importar, pois é na grandeza do anonimato onde impera, implacável. Quando o acusam ser este ou aquele, sendo somente bobo-da-corte, enfurecido menestrel (as paixões do edificante ódio!), as faces trata de mudar; outra máscara veste, com a sempre-flamejante pena dançando nas mãos, manipulada por cordas invisíveis. Tão cheio de artifícios, tão cheio de graça nas maldições que lança, implacável...!
Extremo-escriba, de todos os véus aquele que rompe, de todos os véus o dragão a lançar fogo; extremo-escriba, dedico-te estas linhas como o deus que devemos incorporar em nossos tímidos seres; tão pequenas são as nossas silhuetas, mas tão altas tornam-se quando vens. Tu! Dos teus altos um poder estranho, em tua voz algo mais espreitando, algo que dizer não sei. Eu, Andarilho pelas eras, reconheço-te nos afrescos de paisagens róseas, caídas, reconheço-te; eras o demônio incitando discórdia entre os homens. Mas por que incitavas a discórdia? Não eram os homens a incorruptível criação? E és mesmo demônio ou simplesmente aquele que mostra o que querem? Se és tu este, então mostra-me!
Mostra-me o que quero, extremo-escriba, senhor de todos os mistérios das formas, das ondulantes linhas das palavras. Em teu nome, em tua direção cardinal (Para todos oculta!), escrevo-te cartas, sagro-te incensos. Teu aroma é o de laranjeira, queimado, ressequido; parece-me a fumaça do cachimbo, mas, em verdade, pior é. Teu aroma é o daqueles cadáveres envoltos em perfumes; teu nome? Meu nome transformado — mudam-se-lhe as vogais pelas bocas dos camponeses. Tu és eu, mas eu não sou tu; és o meu reflexo distorcido, demente, desejoso de quebrar e de destruir as antigas coisas. Eu? Sou a tua criação, pois eras o primeiro; de mim nasceste, mas não pertence-me. É agora, é com esta constatação, que posso finalmente vestir o manto que carregas.
Extremo-escriba, se muito não for pedir-te, desejo que me entregues a pena, a pena que carregas contigo, precioso instrumento por ti usado nas canções de avariar. Meus olhos, mas mais que’eles, minhas mãos trespassam os cristais; são tão fortes, tão capazes! Tão absolutamente boas em quebrar as belezas, em depravá-las! Enaltece-me, extremo-escriba, por esta terra sozinha!