SENTIMENTOS INFELIZES
I

Não sei se lhes queria confessar
As imagens que passam na cabeça,
Pois não tenho nenhum Bem a incitar
De tácitos juízos a certeza;
Entretanto, coragem tenho muita:
Não temo reprimendas ululantes,
E, como se sem ódio tolo e afoito,
Não trar-lhes-ei torturas descarnantes;
Sobre o corpo dormente que bem parla,
Paira uma bruma cinza e infeliz
Que consome, atormenta e depois paira
Novamente em mim, como se num triz...
E de qual bruma eu falo? Vou contar:
Esta Infelicidade a envenenar!

II

Como se em florestais, vastos e míticos
Labirintos jazesse nossa Alma,
Somem as sacras dádivas d'Espíritos
Somem nossas fulgentes, vivas calmas,
Indefinível, uma Noite sobe
Em cristais, em azuis escurecidos,
E um verme salaz, lânguido, nos come
Rasgando nossos ossos e tecidos;
Sofrendo co'os insanos apetites
Ele não para, mas só amplificando
Suas jantas, seus métodos e trâmites
De mortais predadores prosperando;
Ficamos indefesos e sem nada,
Sofrendo enquanto a carne é arrancada.

III

Por isso, de nós pede-se brutal -
Uma espontânea forma d'escapar,
Que romperá o casulo deste Mal
Mas não virá por terra, fogo ou Mar,
Deve ser quem com isto se preocupa
Um completo e mordaz despreocupado,
Não mais saiam de bocas as desculpas
Que vêm perpetuando desgraçados!
Devemos aquecer-nos sob os sóis
Infinitos, de graças ignizados,
Amarelos, são pincaros e sois
Vós filhos sempiternos e sagrados!
Qu'encontremos deslumbrante a Razão
Na árdua e satisfeita Criação!