Guerreiros de vício e tormento

Confesso-lhes que costumo ser excessivamente autocrítico, mas o poema que este substitui é tão, tão ruim que nem considerei arquivá-lo, sendo a deleção a única forma apropriada de proceder. Contudo, mesmo não escrevendo com a maior das disciplinas, é explícita minha evolução como poeta. Talvez seja um tanto injusto mensurar tais mudanças através de uma composição que até dentre as iguais possuía defeitos marcantes (Afinal, o apropriado é comparar o mediano com o mediano, excluindo as excepcionalidades dos dois extremos - o muito bom e o muito ruim são anomalias). Ainda sim, desta vez meu tratamento ao tema foi mais apropriado e menos preguiçoso.


São estes os mais cruéis entre os carrascos:
Imperceptíveis, vagos e secretos,
Advindos de locais assaz incertos,
Provocam atração, mas também asco!

O que somos senão marionetes
Destas pulsões sombrias que se mostram,
Nossas forças apenas vão e se prostram
Os racionais caprichos ficam inertes;

Detalhes específicos? São nada,
Deixamo-nos levar por qualquer coisa
Seja o cáustico absinto ou a doce moça,
A pior das torturas não é da espada!

Como cachorros loucos, correremos
Pela indistinta Noite, sem poder
Deles fugir, talvez só os esquecer,
Mas nem isto, já digo, alcançaremos!

Pois para estes cachorros são os ossinhos
Que lançam donos com maldita meta
De tornar-nos só dócil fera cega
Para que sim, viremos bons meninos!

Assim se estendem cordas e correntes
Umas prisões mui bem arquitetadas,
Invisíveis e pútridas, são pragas
Carnais, mentais, em suma: estão presentes!

E nenhum cristão deus pode salvá-lo!
Mesmo qu'açoites tua própria carne,
Mesmo que o couro as tuas costas marque,
Verás como persistem; vão matá-lo!

E se continuares, mesmo a dor
Da qual a maioria sempre foge,
Tornar-se-á prazer que horrível pode
Fazer-te um espancado ou espancador!

Portanto, o que devemos mais fazer?
Se todas as escolhas s'esgotaram,
Nossa mente e noss'Alma não lograram
Tão violenta guerra ir e vencer?

Ora! Lutar não podemos, isto é fato!
Mas podemos moldar essas correntes
Para que virem ótimos presentes,
Converte-se o hedonismo em viril ato!

Se quero algo, tardar não vou a buscá-lo!
Com minhas primitivas insolências,
Tenho a mais implacável das potências,
Assim eu provarei de mil regalos!

E devemos manter-nos bem atentos
Àqueles castradores sorrateiros,
Pois se eles da virtude são guerreiros,
Somos guerreiros de vício e tormento!

Então, disciplinemos as vontades
Sem nunca permitir que virem cinzas,
E que tu nunca vás, mintas e finjas
Qu'as extinguiu e agora és majestade!