Agora que estou finalmente sozinho,
Cessando, por fim, o protesto mesquinho,
Preciso sentar-me e assistir o arrebol
De flamas, o filho supremo do Sol;
Enquanto penetra a sombria morada,
Nos céus risca rastro de glória passada!
Qu'eu encontre em teus tons de outono celeste
A forma, capricho que 'inda reveste
Os puros amores, as ínfimas cores,
De certas pessoas vocais destemores;
Qu'eu encontre sob ti os acalentos primeiros
Cerrando em murmúrios esses desesperos;
Entendes aquela razão pela qual
Contemplo-te, ó Destemido Sinal,
Tal é meu perpétuo e sagrado dever,
A sina primeira, pois sei que a rever
Aquilo que já se passou, que ocorreu
Será que a paixão tua não feneceu?
Respondo que não! permanece vivaz
De alturas os sopros, rebento fugaz,
Movendo-se em pista celeste, arredia
Co'a tua saída se finda este dia;
Mas mesmo que sumas, vivendo viceja
Espumas e raios, as forças dardeja;
Espero poder capturar-te, quem sabe,
Na ponta da faca ou na ponta do sabre,
Espero poder comungar e contigo
Brilhar nobremente, feliz e festivo,
E quando falarem que vais apagar
A Alma, lhes mostra este nosso lugar!
Debaixo de ti nestes breves momentos,
Dançando mil pratas e mil firmamentos,
Unidos, bacantes, vamos cantar
A brisa das eras, serpente estelar,
Deixemos jamais de amainar tua sanha
Mortiço, és quem com a Vida nos banha!