POEMA SEM NOME I
I

Do tempo em que nada eu sabia, bem longe,
Provando o gosto da água da fonte,
Ouvi uma pessoa declarar: serás monge
Conosco beijar vem da Glória a fronte!
Ainda estaria por saber o que eram
Os grandes e loucos crisóis a lamber
A chama valente da pena que erram
As letras mortais do Poeta a escrever!
Marquei nos rios de cristais os delitos
De peito onde fica o incessar desta voz,
Os feitos lembrei aos desgraçados aflitos
Que é doce o ádito como uma noz:
Momento, me dês a esperança da Forma
Que como ninguém eu conheço os caprichos,
Abram o espaço para esta tola e morna
Ruindo no estômago os ávidos vícios;
Não sou monge apenas, mas Vate da sombra
Em meio à longa e secreta penumbra
Descobrem prismas arraigados, dantescos
De reis e temores, de nobres afrescos.
Façam-me eterno ou mortal, nunca importa
Pois êxito sempre pretendo lograr
No azul deste Céu, no quebranto da Porta
Que é o portão para a Noite ceifar,
Funesta e insolente, não esquece a gigante
Viagem que vamos trilhar num instante
No ruir da reta, inconstante o ardil,
Luzindo em dourado, em virente, em anil!