O TIGRE
I

Inspirado muito vagamente no poema "The Tyger", de William Blake. MUITO vagamente.


Ele! Exprimido em latejantes brumas,
Monstro a rasgar os sonhos dos mortais,
Riscos no azul de céus, sombras, espumas
Aparecendo p'ra ti nos sinais...

De ilusões! Desesperadas, frias,
Edulcorantes formas, doces favas,
Assim tu te enganavas com as crias
De ébrias chamas, chamejantes lavas!

Nunca almejei mais que enregelos belos,
Excitações d'um renegado espírito,
Despedaçando crenças e castelos,
E deplorando os elevados áditos!

Pois ninguém sabe como estás à espreita,
Ó tigre! Teus raios vivazes voam
Tal qual clarões e destemidas feitas,
E em Glória como brados ressoam,

E nesta Noite em que os instantes somem,
E nesta Noite em que as estrelas surgem,
Sacia, Tigre, tua eterna fome,
Mostra que as vis presas 'inda rugem!