Ó Verme

Ó, Verme! Conduzindo as gestações
De pálidos conceitos, perigosos,
Carregando os odores vaporosos,
Inauditas e eternas podridões,
Mas os normais espantas, uns sensíveis
De gestos e caprichos tão risíveis
Adorando patéticas beldades
Supostamente belas, mas no fim
Não são mais qu'os escarros d'um rubim,
Rascunhos de pavores, entidades...
Desde já, melhor ser Uno contigo,
Ao menos não serei mais demovido -
Sim! deitado num berço cobreado,
Dormitando em vacilos e vagando
Para ver os que não estão respirando,
A Ceifadora já lhes tirou o fardo...
Posso ser cruel? posso, totalmente,
A morte surgiu-lhes de repente!
Por isso, no submundo destas veias,
Como raízes, galhos que devoram
Os temperamentos, que deformam
Com cólera o fervor das tiranias,
Rasgando-lhes as flâmulas co'os dentes,
Mostro ferocidades descontentes,
Conquistando dos títeres poder,
Esses que longamente torturei,
Então, neste momento dir-te-ei
P'ra que, Verme, consigas entender:
Este mundo de verdes desgastados,
De cidades, pessoas, mil estados,
Não vale teu respeito ou tuas sinas!
Pois conforme levantas do metal
Nesta forma errática, ancestral,
Todos contemplam as fúrias assassinas
Que contigo carregas e promoves;
Este câncer - a Vida? - tu removes!