Parodianismo
I

Em tediosa Noite, fatigado
Após atividades e outras joças,
Deixei-me carregar por este fardo,
Volúpia que na carne assaz me coça;
Aquela palidez e as doutas páginas
Encantavam-me, tolo, e me faziam
Preferi-las às fêmeas inimigas,
De masculinas proles o assassínio;
Observando passarem as palavras
A instilar mil pujanças sanguinárias,
Escapei de mortais e cruéis pragas,
Vaguejei por entre ilhas temerárias;
Retornando, dormente por inteiro,
Decidi consagrar-me poeteiro!

II

Pois quando a poetar eu já começo
Os pulsos movimento, coordenados,
Para esculpir, dileto, este meu verso,
Ao modo dos Parnasos afectados.
Entretanto, parece que tal Arte
Tampouco se assemelha às esculturas,
Elevo-me escultor, mas só em partes
Sou, por tocar dos Mármores alvuras;
E fremem nas mãos minhas as pilastras
O bloco liso, frio, se transforma,
Com camartelos, vou espantando as traças:
À identidade parca lego forma!
Nada há de mais belo do que ver
Pefeita criação no alvorecer!

III

E adverto a quem se volta para a escrita,
Em rica e especial composição,
A ti poeta, digo que a maldita
Carne te prenderás - voraz prisão!
Não penses que tu podes atirar-te
Às damas engenhando as arapucas,
O caminho temido de ser Vate
Só se encontra em mosteiros e clausuras;
E quando imaginares doces corpos,
Caprichos, meretrizes que te amem,
Não deves seduzir-te pelos nossos
Vícios materiais, vícios da glânde!
No ofício poeteiro sempre escuto:
"Não há sucesso se não fores eunuco."