A TERCEIRA LEGIÃO
A TERCEIRA LEGIÃO

Por fim, cantarei para vós
Sobre a Legião que restou,
Contarei segredo tão atroz
Que quase a voz doce tirou:
Mesmo com incensos, perfumes,
Mesmo co'as auroras de glórias,
Vós tendes mil facas e gumes,
Vós tendes a mão, a sã Memória;
E tu, bardo, filho de Tempos
Que dançam no Verbo, na Vida,
Mesmo tu és terror de tormentos,
Mesmo tu desenhas feridas!
Que venham os ventos de Vardra,
Que s'abaixem todas espadas;

De seus elevados portentos
Com capa carmim qu'esvoaça
Eis o Imperador dos alentos,
Dos domos dourados da praça;
Suas ordens, feitos quais brutos
Sua abrilhantada coroa,
Nas lendas e tomos vetustos
O som do massacre ressoa;
Basta-lhe apontar com o dedo
Átimo, num gesto mortal
E em todos se alastra esse medo
Tingido em vermelho-real;
Não existe somente um sujeito
Que com ele falte respeito;

Não temos quaisquer os poderes
E ninguém sob nosso comando,
Mas trinando as cordas, os seres
Lentamente vão despertando:
Reverberai, berros da pólvora!
Erguei-vos, ferozes guerreiros!
Seremos dragão que devora
Tiranos, estados inteiros...
Agora, destrono fracotes
Líderes corruptos, falsos,
Vejo ébrias as chamas do archote
A resplandecer: cadafalso!
Subais sem gritar, reclamar
Se não vós ireis para o Mar!

Sob este sinal venceremos,
Virente, a faustosa serpente,
Enrolada em céus que tememos:
A Medusa, Algol reluzente...
Já vamos tomando países,
Como se assassinos sedentos,
Esbanjam-se comas e crises
No nosso passar violento!
Somos ventania sagrada,
Que toma, retoma e deforma
A lembrança mais enterrada,
A besta que a música trova;
Ninguém poderá - maldição! -
Vencer a fugaz Legião!