Ventos do norte (REESCRITO)

Sobre esta pedra cinza e fria,
Declaro agora o recomeço
Ó claro céu, brilhante dia,
Ó Vardra, deus de quem não esqueço,

E também chamo eles, os ventos
Façam-se aqui todos presentes,
Vindos do Norte, Sul, horrendos
Vindos do Leste, Oeste; sentes?

Sentes as palmas, braços, pernas
Levando pragas e mensagens,
Sentes coroas e fonemas
A recriar vagais miragens?

Sentes o sopro de fumaças
Gestadas, vivas, nos incêndios,
Sentes as guerras, loucas farsas
No coração qu'o Mal entende?

Promessas, sonhos, maldições
Pairam, abstratas, aqui mesmo,
Como passadas frustrações
Nos desgraçando sem sabermos;

Vardra se cobre de amarelo,
Tecido rico, esvoaçante,
Nenhum marquês, duque ou castelo
Dele consegue estar diante;

Ó Vardra, teus filhos reclamam
Que não te fazes, pois, presente,
E a ti, meu Deus, muito declamam
Preces medidas, insistentes,

Usei artimanhas muito tolas
Para tentar encontrar-te,
Estive dentro das escolas,
Saberes não tinham, destarte...

Vem, artesão de ventanias
Vem a trazer os tufões vários,
Causarás morte, romarias
No cantar doce dos canários,

Vento voando nesta Noite
Ergue-se sobre nossos corpos,
Como uma lâmina, já foi-se
Até chegar em campos mortos,

Ele descreve semelhança
Entre essas brisas e essas facas,
Que nos sepulcros, nas pujanças,
São sutilmente mencionadas;

Mas encaminha-se, por fim,
Conhecimento dos melhores:
Vardra cedeu o insoluto fim,
Vardra cessou as tênues dores;

Nós, descendentes deste pária
Qu'a a apoteose conquistou,
Assaltaremos reis e glória,
Glória que o Mundo nos roubou;

Arrebatados nossos ânimos,
Sobre esta pedra citaremos:
O mais perverso desses lânguidos
Cantares velhos (que lembremos!)

"Vento do Norte e vento Sul,
Vinde a cortar este céu azul,
Ó, vento Leste e vento Oeste,
Vinde a trazer a mortal peste;

Vardra sofreu certa injustiça
A qual não ousamos mencionar,
Deidades outras, na cobiça,
Seu reino ousaram destroçar!

Mas o momento já chegou:
Invicto, Vardra se vingou!"