ALDERNEA

Bem-vindo, viajante. Reconheço a inadequadação deste termo, mas não deixo de achá-lo preciso: o que mais você seria? Ora, apenas um daqueles que singram pelos vastos oceanos destas redes. Não sei exatamente o que lhe capturou a atenção, embora isso não importe no grande esquema das coisas. Talvez tenha sido a aparência? Talvez; ela é propositalmente chocante, repleta de cores brilhantes, cruas; é uma espécie de alucinação visual, tal como muitas coisas são. Em sua fealdade proposital, em sua aberrância calculada, torna-se agradável, não por realmente o ser, e sim porque optar pelas cores primárias (e também pelo preto, com seu contraste e escuridão característicos, um vórtice que suga-nos para outro mundo, para as trevas espreitando sob a superfície, para a densidade abissal) é optar pela sinceridade. Num mundo repleto de falsidades, de estéticas dormentes e repugnantemente agradáveis, a sinceridade é um frescor. É o rosto respirando após a maquiagem ter-lhe sido tirada, um rosto que é um portal.

Essas palavras lhe soaram pretensiosas? Exageradas? Deseja rumar para a calmaria de uma página de navegação vazia? Ou repleta de opções ordinárias? Que seja. Se o chamado da conformidade eclipsar o grito visceral da rebelião , vá em frente. Não é difícil reverter o percurso que fez até aqui e simplesmente sair. A entrada é também a saída. No entanto, deixe que eu argumente algumas razões para ficar. Não soarão convincentes, creio; parecerão exageradas como todo o resto, e ver a situação por este ângulo não é errado. Mas permita-me tentar, ao menos. Se há valor em algo, se não em obter sucesso propriamente, este valor reside na tentativa.

O Caos. Foi o Caos que lhe trouxe até aqui, uma confusa e estranha união de possibilidades e probabilidades. O mundo, a despeito do que muitas pessoas tentam afirmar, opera por estas leis (Ora, e o Caos tem leis? Não seria uma oposição direta a elas e àquilo que representam?); é caótico, não porque não tenta aplicar em si mesmo ordem, sentido, mas porque precisamente não consegue. Paira no reino perpétuo das conjecturas, muito como o próprio Caos; entretanto, o Caos é mais verdadeiro por caracterizar-se como o estado natural das coisas, elas como devem ser; é a criação, mas mais importante que a criação por nunca se ter embotado, por nunca se ter concluído. É a matéria da criação, e pode ser seu final.

A Metamorfose, ou as Metamorfoses - pois o Caos é múltiplo, como representado pelas setas expansivas que adornam o glifo deste espaço - já afligiram Aldernea algumas vezes. Como organismo vivo, como ser provido de consciência, este local piorou, melhorou e cresceu continuamente, nunca descansando. Não sei se você vem desses tempos mais antigos, agora quase imersos em brumas; uma aparência anterior não se mantém senão na memória. Entretanto, se este é o caso, então o reencontro era inevitável.

Além deste pequeno espaço (in)seguro, a Ordem, a Estagnação e o Conformismo infectam o espírito, deleitam-se no coração perverso das sociedades; mais que nunca, os seres dormem um sono que, diferente da contraparte biológica, não traz conforto, mas dor; é risível e trágico, embora muitos deles mereçam. Se quiser retornar à senda dos fracassados, à senda dos vazios, à senda dos pífios, faça.

Entretanto, considere que nosso encontro se deu por um motivo. Considere que, estando aqui, há espaço para uma escolha prudente e uma escolha imprudente. Então, siga as setas; você as vê? A vermelha, tingida com o sangue dos Arcontes, conduz a um átrio repleto de insanidades, onde o caminho para a liberdade se pavimenta na subversão. A azul, em oposição direta, conduz ao lamaçal que é a existência mundana.